Curso da Vida – Prepare-se para viver melhor

Nova Zelândia tão distante quanto surpreendente

Foram 5h até Santiago + 4h de espera no aeroporto local + 13h de voo até a Nova Zelândia! Assisti a três filmes, li, escrevi diário, fiz paciência, jantei (ou seria almoço?), conversei com os vizinhos, visitei o comandante e Auckland não chegava. Isto sem falar que saímos daqui na quinta-feira e chegamos lá no sábado. Nem me pergunte onde foi parar a sexta… Com o fuso horário, e coisa e tal, ela deve estar ainda dentro do avião, esperando a nossa volta.

É, a Nova Zelândia tinha tudo para ser um país esquecido, quase caindo do mapa. Mas ganha destaque justamente por tudo o que lhe faz singular. Nos confins do mundo, a soma das áreas de suas duas ilhas é do tamanho do Piauí, com uma população de 4,4 milhões de habitantes e um rebanho de mais de 40 milhões de ovelhas. São quase 10 ovelhas por habitante!!!!

Com muitas áreas de pastagens – que formam imensos tapetes verdes, o país é uma verdadeira aula de geografia. Reúne vulcões ativos e extintos, gêiseres, rios furiosos e calmos, cachoeiras, praias virgens caribenhas vizinhas de montanhas nevadas, florestas alpinas com samambaias tropicais que crescem ao lado de lagos glaciares, cavernas, fiordes, calor, frio, adrenalina e tranquilidade, e, aproximadamente 15 mil km de costa!!!! Nenhum ponto do país fica a mais de 120 km do mar e quase todas as principais cidades são à beira d’água: mar ou lago. Seus habitantes, orgulhosamente chamados de kiwis – uma referencia não à fruta, mas ao pássaro, símbolo do país – são hospitaleiros e prestativos. Donos de um sotaque fechado e difícil, esbanjam cordialidade e fazem o turista se sentir em casa. Se depender dos neozelandeses, pensei, a viagem é espetacular!

Quinze horas de fuso horário separam a Nova Zelândia do Brasil, o que explica um pouco do estilo de vida neste longínquo país da Oceania. Os kiwis cultivam uma relação peculiar com o tempo. Como o país fica ao lado do meridiano que regula a mudança dos dias no mundo, ele é dos primeiros a receber as luzes de uma nova manhã. Esta linha imaginária – Linha Internacional da Data – que corta o planeta de um polo ao outro e regula a mudança dos dias, está a poucos quilômetros a leste, o que significa que o neozelandês precisa percorrer muito pouco para voltar ao dia anterior! Esta convivência diária com o futuro contrasta com a falta de passado do país, uma terra selvagem, descoberta por ingleses em 1769, com menos de 250 anos de colonização.

O país é pequeno mas, com tanto o que ver e fazer, não programe menos do que 15 dias para sua visita. Além disto, como tantos outros países longínquos do planeta que não são passagem pra lugar nenhum, e demora-se tanto para chegar até lá, só vale a pena conhece-lo se pudermos conhece-lo bem. As chances de voltarmos são bem pequenas. Assim, dividimos o país em duas edições, de acordo com suas principais ilhas.

Nesta edição falaremos da Ilha Norte.

Uma pesquisa de 2011 apontou Auckland como a terceira melhor cidade do mundo para se viver. Faz sentido! Localizada entre baías, espremida entre o Mar da Tasmânia e o Oceano Pacífico, Auckland é simpática, agradável, muito arborizada, decorada com dois vulcões e níveis de pobreza e violência zero. A gente nem sabe o que é isto. Com 1,5 milhão de habitantes, é a maior cidade do país e tem mais barcos do que carros, o que lhe rendeu o título de Cidade das Velas.

O ônibus de turismo Hop on, Hop Off vai descortinando os pontos turísticos: Viaduct Harbour, Ferry Building, a Catedral, Parnell Village, Civic Theatre, Museu de Auckland e aí vale um pit stop. Como entender uma civilização sem conhecer seus museus? Muito interativo, rende justa homenagem aos maoris, o povo que aqui estava antes da chegada dos ingleses; à presença do país nas duas Grandes Guerras Mundiais; e tem uma imperdível seção dedicada a Sir Edmond Hillary, o compatriota que, em 1953, foi o primeiro homem a chegar ao topo do Monte Everest. Ao comentarmos o quanto estávamos impressionados com o museu, nos perguntaram se iríamos a Wellington, pois não podíamos perder o Te Papa, o museu nacional. Chegaremos lá!

Ainda em Auckland:
SkyCity Tower – uma vista 360 graus de tirar o folego, a 328 metros de altura. Lá no topo tem um luxuoso restaurante, Tamarind, (fazer reserva). Mas se quiser apenas ver o por de sol, chegue lá pelas 16h e fique até o anoitecer. Kelly Tarlton – um misto de Smithsonian Institution com Sea World, tem um túnel de vidro que atravessa um enorme aquário, que maravilha adultos e crianças. Aliás, se estiver com crianças, reserve boa parte do dia para fazer todas as atividades que o museu oferece aos baixinhos. Pais e filhos satisfeitos ou seu dinheiro de volta! Planeje um jantar à luz de velas num cruzeiro no Cruising Auckland. Um passeio pela baia dos Golfinhos é um espetáculo para ninguém esquecer. Reserve um fim de tarde para andar despreocupada pelo Viaduct Harbour e Wynard Quarter, área de marinas, repleta de bares, lojas e restaurantes.

Próxima parada, a 200 km, Waitomo – 45 km ininterruptos de cavernas se escondem nos subterrâneos desta pequena cidade. Além das estalactites e estalagmites, presentes em tantas outras cavernas, Waitomo tem uma atração extra: glowworms, larvas minúsculas que usam a luminescência para atrair outros insetos e assim, se alimentar. Pode parecer nojento, mas na escuridão, tudo o que vemos é um céu muito estrelado. Cadê o grande compositor campinense, Cassiano, cantando A lua e eu? Merecia… Os glowworms podem ser vistos num passeio pela Waitomo Glowworm Cave, ou num tour mais radical, usando boias para se locomover pelos canais subterrâneos, no Black Labyrinth rafting. Um rio gelado os aguarda. Com roupas de neoprene, galochas e um capacete de mineiro, com farolete, tudo o mais que você precisa é coragem. As cascatas subterrâneas exigem preparo físico e guardam momentos de pura adrenalina, quando o instrutor pede pra você pular, sentado na boia, na escuridão e no vazio, sem que se enxergue aonde se vai cair. Todos sobrevivem. E gostam. Estranhos, mesmo, os seres humanos…

De Waitomo, 86 km depois, por encantadoras estradinhas vicinais, chegamos ao set de filmagem de Hobbiton e o Senhor dos Anéis. O diretor do filme sobrevoou a região e escolheu uma fazenda para ali construir a cidade dos Hobbitons. O exército ajudou com maquinários e terraplanagem, arquitetos interpretavam o livro, pois o diretor exigia fidelidade total. Ali construíram os 44 buracos dos Hobbits, apresentados pela guia que vai contando a estória e lembrando que “foi aqui que Froddo fez o discurso e desapareceu”. Um deleite para as crianças, um sonho para os adultos.

Dali, mais 63 km e estávamos em Rotorua.

Rotorua – Lamas que borbulham, lagos de águas ferventes, minas que espumam, cheiro de enxofre no ar, poços com águas verde limão. Não é à toa que em Rotorua as atrações tenham nomes como Cratera do Inferno e Caldeirão do Diabo. Uma paisagem tão surreal que é surpreendente que pessoas e ovelhas convivam com tudo isto de forma tão natural… Rotorua está exatamente sobre o Cinturão de Fogo do Pacífico, o perímetro geológico onde ocorrem os mais violentos fenômenos sísmicos do planeta. Para onde quer que você olhe, tem um gêiser, um vapor fumegando, uma fumarola lançando gases para a atmosfera. Diversos parques, onde gêiseres e lagos coloridos – em função da grande quantidade e diversidade de minérios – fazem a alegria dos turistas e dão à cidade ares de filme de Spilberg. O Te Puia Park é um deles, onde o turista caminha por passarelas a distância segura dos jatos de água escaldantes, que parecem jorrar com raiva do centro da terra. O museu da cidade é muito bom e, o casarão que o abriga, uma jóia da arquitetura.

Após um dia cheio de atividades, relaxe num spa… São muitos e com cardápios variados. Como as atrações encerram às 17h, pode ser um bom programa para o fim de tarde, pois ficam abertos até às 23h. Está com dores musculares por conta da caminhada? Vá direto para as piscinas de águas ácidas. Quer apenas relaxar a musculatura? Corra para as de água alcalina. E saia de lá novo em folha!
Em Rotorua entra-se mais em contato com a cultura maori. Diversos parques contam esta estória e reproduzem as tradições do povo. O Tamaki Maori Village dispõe de vans que o transportam para o século 18, ainda a tempo de visitar uma réplica da vila indígena, aprender as danças e provar da gastronomia. Parece surreal, e é! 

Hospede-se num dos inúmeros hotéis com piscina de águas termais da Av. Fenton.
Se tiver tempo de sobra, siga de carro para Wellington, bem ao Sul da Ilha Norte, a 455 km de Rotorua. Há muito o que ver pelo caminho, como o Taupo Lake, o maior do país, Hasting e a cidade universitária de Napier. Se não houver disponibilidade, um voo de 1h te levará à capital do país.

Wellington – com menos de 600 mil habitantes é o melhor lugar para quem quer sentir o clima dos tempos coloniais, em que ingleses, galeses e escoceses chegaram para construir uma “Grã Bretanha ensolarada”.

Ainda hoje é uma mistura de metrópole com pequena cidade do interior, tamanha a tranquilidade de suas avenidas. Sede do governo e do poder político, seria apenas mais uma bonita cidade do país se não fosse o Museu Te Papa, que justifica qualquer desvio para conhecê-lo. O Museu Te Papa, inaugurado em 1998, é estruturado em cinco alas, com 36 mil metros quadrados de realidade virtual e interativa, e faz uma linha do tempo desde os maoris, passando pelos colonizadores até os dias de hoje. Te Papa quer dizer “nosso lugar, nossa casa”. Dedique-se a ele, pois vale quanto pesa… Nosso querido Brasil, com seu gigantismo, não tem nada nem parecido!

Saímos do museu para o Tourist Information Center, pois queríamos pegar um city tour. Com seis guichês de atendimento e guias fluentes em 12 idiomas, explicamos que queríamos conhecer a cidade e arredores. Nos sugeriram um tour privado, a um custo muito bom. Ao aceitarmos, a atendente ligou para um guia cadastrado e, em 30 minutos Anthony estava ali, ao nosso dispor, para um tour de 3h e muita informação! Simples assim! Seis da tarde, caminho exausta pelas ruas de Wellington depois de um dia de muitas descobertas. A bateria da câmera fotográfica – e a minha também – estão completamente descarregadas. Bares e restaurantes estão na região de Courtenay Place, músicos tocam em bandas ou fazem solos nas calçadas da Cuba Street, que faz a alegria dos antenados em moda, arte, gastronomia. Antes do dia acabar, corra para a Lombton Quay, pegue o Wellington Cable Car (uma espécie de bondinho do Pão de Açúcar local) e rume para o Jardim Botânico, no alto. Compre um bom queijo e um dos maravilhosos vinhos locais e termine o dia num gostoso picnic, apreciando o por do sol.

Para o jantar, faça reserva no Logan Brown, um maravilhoso restaurante na Cuba Street. E leve o que sobrar de você para dormir, na certeza de que seu papel como turista foi cumprido muito bem!

Dicas do Viajante
Para planejar www.newzealand.com/br – portal em português www.aucklandnz.com
www.newzealandvacations.co.nz

Para dormir
Auckland – Crowne Plaza Auckland –ótima localização e serviços
Skycity Grand Hotel – cinco estrelas acessível, com excelente localização.
Rotorua – Heritage- www.heritagehotels.co.nz NZ$ 383
Rydges- à beira do lago – www.ridges.com NZ$ 135
B&B at The Redwoods – charmoso e rústico
Wellington- Rydges Wellington – tratamento de realeza, a preços plebeus

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