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Respeitar os limites do corpo ajuda a evitar quedas

Para a fisioterapeuta e gerontóloga Mirian Moreira, políticas de educação e conscientização são os melhores caminhos para reduzir os riscos de queda de idosos. Segundo ela, muitos fatores podem provocar as quedas, mas um dos maiores motivos de acidentes é o fato de a pessoa não ter consciência dos seus limites e não respeitar suas condições físicas.

Com a idade, os recursos físicos diminuem, mesmo que nem sempre essa redução seja totalmente perceptível. E, por isso, correm mais risco de cair aquelas pessoas que ainda se sentem capazes de fazer muitas coisas que, no entanto, já não são seguras para elas. “As políticas públicas devem incluir campanhas para conscientizar os idosos das perdas inerentes ao envelhecimento, que abrangem perdas de acuidade visual e acuidade auditiva, perda de força, sarcopenia (sarcômeros são as células contráteis dos músculos); doenças cardiovasculares, demência, etc.”, diz Mirian. 

Mirian, que coordena a Câmara Técnica de Fisioterapia da regional Rio de Janeiro da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia (SBGG), diz que não se pode arriscar mais do que os limites físicos, funcionais ou cognitivos permitem. “Pensemos, por exemplo, em uma senhora idosa, com 87 anos, saindo de casa, no bairro de Copacabana, às duas horas da tarde, com uma bolsa para ir ao supermercado. Ela terá que driblar as obras das calçadas, a grande quantidade de gente em volta dela que não olha para o idoso, os trombadinhas, os motoristas no trânsito, que não querem nem saber do pedestre, o peso da bolsa… Tudo isso pode acarretar uma queda.”

Estudos apontam que 52,4% dos indivíduos com episódios de queda são mulheres acima dos 75 anos. “Isso acontece não porque as mulheres são mais frágeis, mas porque são arrojadas e fazem mais coisas”, explica a especialista. “Aquela senhora de 55 anos que subiu a vida inteira no banquinho, para pegar o que precisa, não entende que agora não pode mais fazer isso. Esse esforço de conscientização deve ser objeto de política pública, voltada exatamente para quem pensa que ainda pode fazer tudo o que fazia quando era mais jovem.”

Essa percepção é crítica porque, em geral, as pessoas têm uma autoimagem diferente da sua realidade, destaca Mirian. Nesse sentido, ela ressalta que não basta dizer ao idoso que ele não pode fazer o que pretende; é fundamental apresentar alternativas. “Não adianta dizer para uma pessoa idosa – e que não tem doença de risco nem percebe uma limitação evidente – que ela não pode ir ao mercado. Mas podemos sugerir que ela, em vez de ir às duas da tarde, vá de manhã cedo, quando a confusão na rua é menor; e que não traga um a bolsa pesada, mas compre as coisas aos poucos ou peça para entregar em casa.”

Exercícios e atividades físicas também são recomendados. Promovem ganho de massa muscular e fomentam a parte cogntiva. “Exercício físico aumenta o aporte sanguíneo, o oxigênio no cérebro e, assim, as condições congnitivas.” Além disso, um geriatra deve dar orientações sobre os impactos das interação medicamentosa, para evitar tanto a overdose quando a subdose. Por exemplo, diz Mirian, quem toma remédio para dormir costuma acordar tonto, sujeito a risco de queda. Em geral, segundo a fisioterapeuta, a partir de cinco medicamentos associados já há risco de alteração no equilíbrio. Por outro lado, a falta de medicação, se necessária, pode levar tanto à hipotensão quanto à hipertensão.

Grande parte das quedas de idosos acontece principalmente dentro da própria residência, devido a aspectos ambientais, quando o espaço externo não é adequadamente adaptado ao individuo. O caso muito frequente de casas com tapetes. Sem contar com diferentes patologias, que também podem acarretar acidentes: hipotensão postural devido à hipotensão arterial (pressão baixa), problemas cardíacos, fraqueza e hipotrofia muscular, osteoemia, diminuição da acuidade visual e auditiva, tonturas (por doenças neurológicas ou não).

Um estudo desenvolvimento por Mirian, em parceria com Monica Perracini, da Universidade de São Paulo (USP), mostrou que a diminuição da força de pressão palmar (nas palmas da mãos) e do tempo de apoio unipodal (sobre um dos pés) aumenta o risco de queda. “A força que um indivíduo tem na mão está diretamente relacionada à força do seu corpo inteiro.” Em fisioterapia, testes com aparelhos especializados, indicam se há fraqueza muscular.

Medo saudável
Uma estatística internacional estima que, globalmente, cerca de 30% dos idosos com mais de 65 anos caem pelo menos uma vez por ano. Outra pesquisa, nos EUA, entrevistou 5 milhões de pessoas nessa faixa etária, ou 15,9% de todos os adultos com mais de 65 anos. Quase 16% dos idosos pesquisados já tinha caído uma vez.
Segundo Mirian, dados de 2005 a 2010 revelam também que o medo de cair varia de 10% a 65% nesse grupo, em todo o mundo. Entre aqueles indivíduos que nunca tiveram uma queda, a taxa varia de 12% a 65%. E, entre os que já caíram, a taxa de prevalência do medo de cair sobe de 29% a 92%. “O ideal é que mais idosos tivessem essa preocupação. As pessoas devem saber que, a partir de uma determinada idade, não devem subir nos banquinhos para pegar um objeto no alto. Mesmo que estejam se sentindo ótimas. Elas caem porque não respeitam a sua idade.”
A fisioterapeuta e gerontóloga diz que o sistema público de saúde global deve gastar R$ 240 bilhões por conta de quedas. As campanhas educativas, diz ela, deveriam incluir folhetos, palestras e outras formas de esclarecimento dos riscos junto a idosos.

Recomendações
. Adapte o espaço da residência (por exemplo, retirando tapetes ou instalando barras)
. Em caminhadas pelas ruas ou nas compras, sempre que possível, prefira horários de menor confusão
. Escolha sapatos confortáveis, que fiquem presos aos pés e com saltos baixos (medindo cerca de dois dedos), do tipo Anabela, para não pressionar coluna
. Evite bolsas muito grandes
. Não suba em banquinhos, escadas, cadeiras – mesmo que pareça em condições de fazê-lo
. Preste atenção aos sinais do corpo – ao sentir tonturas, procure se sentar, não force os limites
. Faça caminhadas e exercícios
. Assegure boa iluminação no ambiente
. Deixe a vergonha de lado: peça e aceite ajuda

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