Curso da Vida – Prepare-se para viver melhor

A capacidade de amar – 8 ou 80

Em conversa com uma paciente sobre a capacidade de amar após sofrer uma desilusão amorosa, surgiu a expressão: “agora funciono em 8 ou 80”. Eu sei o que significa a expressão, mas não consegui encontrar a razão nem a origem dela. Esta semana foi curiosa, pois ouvi com frequência de mulheres um mesmo tipo de discurso, sobre o medo de amar de novo… Uma disse que não amará mais; outra, que os homens não prestam; mais uma, que não sabe lidar com as emoções e a ansiedade. Mas a campeã foi a que encontrou “o cara certo”, as coisas aconteceram bem e ela concluiu que deveria se afastar dele.

Creio que foram essas sessões que me motivaram, mais do que outras, a escrever uma homenagem crítica e questionadora a essas mulheres. Permitam-me compartilhar a linha de raciocínio que desenvolvi com a paciente do início deste texto. Expliquei que existem dois grandes riscos de agir no 8 ou 80: o de não ser feliz sem nem mesmo tentar; e o segundo, de fantasiar, exagerar ou falar sobre emoções que efetivamente não existem ou pelo menos não na intensidade sugerida. Tomemos as redes sociais como exemplo. São grande fonte de angústia e sofrimento para as pessoas em dias ruins, que ao “logar” se deparam com pessoas supostamente felizes, que se amam e com futuro maravilhoso.

Agir no 8 ou 80 é sinônimo de responder a algo que não está no presente, seja porque antecipamos o futuro de tanta expectativa e ansiedade, ou por estarmos presos ao passado. Agir em 8 ou 80 é muito perigoso, pois ignora-se o intervalo antes do 8 (1,2,3..) e o que vem depois também (90, 100). Pois bem, não era aula de matemática, muito menos me interessavam os números com prioridade. Minha preocupação era que ela percebesse que havia deixado de se relacionar com quem estava ao seu lado naquele momento exato, e passara a conduzir a relação em outro plano.

Insisti com a margem de 8 a 80 ser muito pequena. E se você, leitor, como ela, deseja uma vida amorosa mediana, fique por aí. Mas se deseja experimentar plenitude, livre-se dessas respostas sociais comuns. Pegando carona na ideia, vi muitos “posts” em redes sociais esta semana também, dizendo que não há idade para o amor. Ora, se não há realmente, para que afirmar o contrário? Em outras palavras, passemos de um discurso seguro para um real perigoso, tenhamos a dignidade de quebrar a cara e nos reergamos tantas vezes quanto forem necessárias, mesmo que seja com o mesmo(a) parceiro(a). Mas que possamos ser ousados e diferentes, se desejarmos outras respostas que não as mesmas.

Bom, se 8 ou 80 não serve para idade do amor individual, coletiva, serve para quê? Acredito, atualmente, que seja para dar uma falsa sensação de controle aos medrosos (com motivo) de plantão. Por favor, reflitam, pois antecipar o medo de ficar só, através da estratégia de viver um amor pela metade ou só parte dele, é a mesma coisa que tentar fugir do destino e acabar se encontrando com ele mais rápido. Não me falem que aprenderam ao longo de seus 70, 80 ou 90 anos, para depois concluírem coisas medíocres como (resumo): “aprendi a me submeter” ou “a aceitar o pouco que me cabe”.

Acredito no aprendizado através de modelos. Mostre-me o que tem, de verdade, em essência, e deixe que eu lhe diga se serve ou se desejo parecido para mim. 

Mais uma vez, um convite para que possamos sair do discurso típico, repetitivo, “a vida é bonita”, “existe esperança”, “há tanta gente boa pelo mundo” e sejamos instrumento de mudança em ação concreta. Creio estar seguindo Rubem Alves em seu texto sobre as jabuticabas, ao citar esta frase que ganhou força na época da revolução democrática ou ditadura no Brasil: “Sejamos realistas, desejemos o impossível”. Deixo assim meu carinho e respeito às pessoas que fizeram e fazem deste mundo um lugar melhor, e concluo com um pedido: sejamos menos medíocres e tímidos com nossas vidas amorosas, pois a minha felicidade está atrelada à tua, à sua e à nossa, consequentemente, necessariamente. Agradeço pelo texto e pelos encontros que produziram estas ideias, assim como a gentileza e o amor incondicional (sem motivo específico) que tenho recebido no meu trabalho.

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